segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Disso

Quero mais disso ou daquilo.
Me afundar no riso promíscuo.
Dançar na perda da fé.
Quase morro disso ...
Na minha faceta fantasma.
Disso que eu necessito!
Meu capital antagônico.
Minha falsa modéstia alheia.
Quero mais que isso!
Fumar escondido no quarto.
Adormecer ao lado do inimigo.
Se você chegar eu saio!
Se for interessante eu faço aquilo!
Eu em meu mundo monstro criança feliz.
Você em seu sol que não mais brilha.
Disso nada sei!
Pouco quero!
Se deixar destruo meus mitos
num sonho perverso e compulsivo.
"Mais do mesmo" disso!
Naquilo que queríamos!
Na raiva suja que ficou!
Não se sabe!
Pode ser disso que preciso ...

Renato Leme

Cansei ...

Cansei de esperar pra falar.
Pra dizer qualquer coisa.
Pra correr atrás dos carros sem sentido algum.
Cansei de beber despedidas
consentindo um prazer triste.
A Libido chegou e foi embora.
O dia " D " nasceu pra mim.
Cansei do agridoce.
Da vontade de acordar tarde.
Da festa frustrada em minha alma.
Hoje luto pela demência.
Agarro a sorte que você me deu.
Sinto uma agonia boa.
Sonho uma desgraça alheia.
Cansei de deixar o querer
pra sofrer o que não tem.
Pra chorar pelo o amanhã.
Ainda tenho algumas cartas na manga.
Sou o espaço pro tempo passar.
Cansei de saber das coisas.
De entender o que!
Ando descalço por aí.
Estou no meio da tempestade.
Vamos olhar a verdade.
Deixar de lado o " Eu".
Vamos cantar num domingo belo
e ver o sol nascer ...

Renato Leme

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Pseudônimo: J.T ... Descompromissado ... Adolescente e Feliz

Fernando Ferraz é o tipo de rapaz o qual as meninas caem aos seus pés. Esbelto, bonito, inteligente e quase sempre um " gentleman". Vive rodeado de amigos no colégio , e sem dúvida é o mais popular da turma. Tem dias que posa de "bad boy". Pita um cigarro , toma umas cervejas no boteco mais badalado do bairro , desfila seu vocabulário sobre as histórias das bandas de rock prediletas , enche o peito e dá uma de durão com outros garotos. Porém de uns dias pra cá anda mudado.
J.T , como é conhecido entre a galera ( e não se sabe o porque do J.T ), está calado e pensativo. Anda só pelos cantos com o olhar distante. As garotas procuram entende-lo , mas sem sucesso. Fizeram até uma reunião secreta no colégio entre elas para tentar descobrir o que acontece.
Em casa com os pais não muda muito . Sua mãe lhe dirigia a palavra , e às vezes J.T não respondia.
Ia pro quarto e assitia tv por horas e ouvia seus heróis do rock n' roll. Led Zeppelin , Pink Floyd, Kiss, AC/DC e muitos outros da década de 70 . Apesar de seus dezoito anos , tem o mesmo amor que o pai pelo rock classico. Não abre mão do estilo e seus tímpanos são alérgicos ao novo rock.
Outra grande paixão de J.T são os animais. Ama tudo que é bicho . Tem uma coleção em casa. Peixe , gato , papagaio , pombo , porquinho da Índia e uma exótica aranha num aquário.
Brigava feio com qualquer um que maltratasse um bicho em sua frente.
Dona Eulália, sua mãe , divergia com ele de vez em quando.
--- Fernando! Essa casa parece um zoológico . Bicho dentro de casa não dá filho!
--- Mas mãe! Eles são nossos melhores amigos. Acredite!
--- Quanto a amizade é bem-vinda , mas o cheiro e a sujeira não dá!
--- Tudo bem mãe! Limpo tudo , arrumo tudo , deixo tudo brilhando!
Assim acabava enrolando sua mãe , mas de bom grado , pois deixava a casa em ordem mesmo.
Numa dessas tardes deitado em seu quarto ao som do classico álbum:"The Dark Side of The Moon" do "Pink Floyd" pensava na vida e desligava-se do mundo exterior.
O ano letivo estava terminado e a pressão do vestibular aumentava. Em meio aos conflitos da idade já sabia o que queria . Seria veternário e pronto! Seu pai , o Dr. Agenor Ferraz não aceitava a ideia do filho ser veterinário. Mas não tinha conversa , J.T era turrão e astuto, e quando colocava algo na cabeça ninguém tirava.
O som ia rolando e seus pensamentos acompanhavam a melodia da música . De súbito batidas fortes na porta e gritos alucinantes:
--- Fernando! Fernando! Tão te chamando menino . Abaixa esse som e vem atender!
J.T saiu cambaleando do quarto em direção a sua visita.
--- Pô ! Zeca , bacana! Como é que cê tá!
--- Beleza! Passei na sua casa algumas vezes e não te encontrei , no colégio você tá maior esquisitão , qual é!
--- Vamo lá pro quarto! A gente conversa tranquilo. Não é nada demais , cabeça cheia! Vestibular, despedida da galera do colégio , cada um vai pra um canto , entende!
--- Certo! Vamo bater um papo então!
J.T e Zeca sempre foram grandes amigos desde à infância . Conversaram à tarde toda sobre suas aspirações futuras e as mudanças que iriam enfrentar dali por diante.
--- Ah! J.T , eu ando meio griladão também nos últimos tempos , mas não esquento não! Nem vou prestar vestibular agora , ainda não sei o quero fazer! Primeiro vou procurar um trabalho pra ter minha grana , sabe!
--- Pode crê! --- Falou J.T sem muito entusiasmo.
Os meninos trocaram mais algumas palavras , escolheram novas músicas , enfim J.T gesticulou em voz grave:
--- É o seguinte Zeca! Tem uma coisa que quero te falar que tem a ver também com essa minha zonzeira atual.
Zeca levantou-se ! Estatelou os olhos e ficou mudo fixando o amigo.
--- Tô apaixonado cara!
A gargalhada do Zeca ecoou os quatro cantos do quarto!
--- Não acredito! O rei da mulherada , qual é!
--- Eu também tô meio pasmo , mas tô a fim da Flávia! Aquela garota que mudou faz pouco tempo aqui pra rua debaixo!
--- A que não fala com ninguém , não é!
--- Isso mesmo! Tenho um encontro hoje à noite com ela , e tô até meio nervoso!
--- Ah! Irmão , sai dessa! E as garotas que tu pega , como fica!
--- Tô fora! Quero namorar sério, entrar pra faculdade e ficar na minha.
--- Há! Há! Tô sabendo!
J.T convidou gentilmente o amigo à retirar-se e encerrou o ciclo de conversas naquela tarde.
Passava das 18:00hs . Tinha que escolher uma roupa bacana , tomar uma boa ducha e ir ao encontro da garota dos seu sonhos às 20:00hs em ponto.
Vestiu um jeans preto e uma camiseta branco básico . Estava bem natural. Queria ser o mais simples possível em seu primeiro encontro com Flávia.
Saiu saltitante pela rua , o céu estava estrelado e a noite fresca.
Encontraria com Flávia no bar do Durval ( a meia hora de caminhada de sua casa... ) , ponto de encontro onde os jovens reuniam-se pra bater papo e ouvir música.
A plano era chegar antes do horário , pedir uma bedida e esperar por ela.
Atravessou a avenida principal do bairro em passos largos entre os carros . Ouviu uma freada em sua costas e um estranho som . O som era familiar . Só podia ser o tilintar de um bicho! Um animal atropelado atrás dele , esmagado por um motorista inconseqüente sem amor aos animais.Um cão , um gato , um pombo ... sei lá! Virou-se rápido entre confusos pensamentos e viu uma galinha estrebuchando no asfalto. Uma galinha!-- pensou. Mas que diabos uma galinha estaria fazendo aquela hora da noite numa avenida movimentada. Não era hora pra esse tipo de pergunta. Correu de encontro a ave e pegou-a nos braços. Analisou seus ferimentos superficiais.
Uma asa quebrada talvez , ou algo mais grave! Mas a ave ainda estava viva!
Acenou um táxi na avenida e foi em direção a clínica veterinária mais próxima para tentar salvar a vida do bicho.
O veterinário examinou-a , cuidou dos ferimentos superficiais e constatou uma leve fratura na asa esquerda . Nada tão grave . A ave estava sã e salva!
J.T decidiu que queria ficar com o bicho e voltaria depois para pega-lá.
Já passava da 22:00hs e o encontro com Flávia tinha ido pro espaço.
Foi até o bar do Durval para dar uma conferida , mas o local estava às moscas.
Iria na casa dela pela manhã seguinte e explicaria tudo.
Acordou cedo e foi à casa de Flávia. Sabia que ela estudava no período da manhã. Ia desculpar-se e explicar o acontecido antes de sua aula.
--- Oi Flávia , bom dia! tudo bem!
Flávia olhou J.T de cima embaixo.
--- Pô ! Fernando! Que papelão! Me deixar esperando sem dar sinal de vida. Não sou nenhuma dessas que você tá acostumado não!
--- Posso explicar tudo! Aconteceu um sério imprevisto. Tenho certeza que você vai entender.
Nesse instante houve um silêncio mútuo entre ambos.
E J.T começou a história do atropelamento da galinha . Os primeiros socorros , o táxi rumo ao veterinário , o seu amor pelos bichos e coisa e tal ... Por fim mil pedidos de desculpas e belas palavras em relação ao seu sentimento verdadeiro pela garota mais encantadora que conhecera.
Flávia continuou calada , com as mãos na cintura , batendo o pé e com o semblante , "olho no olho".
--- Bela história Fernando!Incrível sensibilidade. Já pensou em ser escritor , ia ser dos melhores!
Fernando sorriu.
--- Olha aqui! Deixa de palhaçada! Tá pensando que sou dessas que você pega todo dia por aí. Você deve ter atropelado mesmo alguma galinha na noite passada! Vê se me esquece! Tchau!
Flávia deu as costas pra J.T e foi embora pra aula.
J.T desolou-se , por um instante não acreditava no que tinha acabado de acontecer . Ele foi honesto , sensível , verdadeiro e fiel , e tudo acabara ali , sem maiores rumores.
Abaixou a cabeça e foi pra casa em passos lentos envolto em seus pensamentos. Triste por Flávia, mas feliz , pois teria um novo bicho em casa.

Renato Leme.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Todos ...

Eu, você e nós.

Nós todos e eles também.

Quando vocês se juntam , nos forman a quem?

Em todos os caminhos eles passam por mim.

Fazendo assim nós todos juntos.

Meu destino é uma trilha precoce.

Minha vida é você!

Esta hora é a próxima.

No mesmo instante!

Eu, você e nós.

Eles , por que não?

Um minuto pra partir.

Meu mundo partindo em três.

Flores e esperança!

Na estrada , meu amor!

Eu, você e nós.

Ou talvez , eles também ...

Renato Leme

Apenas ...

Apenas ... Distraindo-me nos dias.

Tentando sobreviver ao medo da solidão.

Saindo em cada partida ... Consumindo a força do acaso.

Ilhado em pensamentos nocivos.

Juntando partes esquecidas.

Apenas ... Pensando no nada.

Querendo dizer atrocidades melancólicas.

Correndo à cada esquina ... Sentindo um prazer incontrolável.

Insensato momento desperdiçado.

A alma despedaçada.

Apenas ... Contando corvos.

Amando pra esquecer o medo.

Chegando Intacto ... Driblando as maneiras depressivas.

Tudo ao mesmo tempo agora.

Volúpia longe do querer.

Não há o que temer ... E nem como temer ...

Chuva negra e ácida sobre cada pergunta.

Deixar a barbárie de lado , tornou-se momento raro!

Ambigüidade mórbida.

Infinitamente apostos.

Apenas ... Acontecendo ... Isto!

Renato Leme

Grotesco

Grotesco o pó em nossas vidas.

A agonia itinerante no ar.

O amor traindo a emoção.

Grotesco o dia da caça.

A raça que ilude a excitação.

Um sonho morrendo ao entardecer.

A sorte na palma da mão.

Grotesco o amargo no fundo da alma.

A melancolia dançando ao luar.

Um martírio esquecido nos dias.

A dor que não pode esperar.

Grotesco o livro na estante.

A escrita suja do nosso viver.

Um conto maldito que se consagrou.

A rima perversa entre mim e você.

Grotesco os anos vividos.

A paz que nunca se deu.

Um rosto já desfigurado.

A chance que você perdeu.

Grotesco as luzes acesas.

A arte que não tem sentindo.

A maldição das nossas palavras.

Um filme em preto e branco.

Transcendendo-nos ...

Abruptamente ... Grotesco.

Partindo em dois ... Nós.

Renato Leme